José Fernandes, influenciador brasileiro com mais de 700 mil seguidores no TikTok e quase 1 milhão no Kwai, tem viralizado com uma estratégia de conteúdo que mistura romantismo, provocação e carisma, atributos que se tornaram controversos ao atingir um público mais vulnerável. Ele frequentemente aparece em vídeos apelidando seguidoras idosas de “coroa mais linda” ou dizendo que está “na cidade da coroa do outro lado da tela”, em um estilo que sugere diálogo pessoal, o que tem causado confusão emocional entre muitas delas.
@jose.fernandes_oficial Coração lindo
♬ Someone you loved – Beautiful girl
O problema veio à tona com relatos de famílias que perceberam que mães, tias e avós não apenas interagiam com os vídeos de forma excessiva, mas chegavam a acreditar que estavam em um relacionamento amoroso com o influenciador. Uma das revelações mais preocupantes foi feita por Mafe Cabral, que contou à BBC News que sua avó internada começou a pedir seu celular apenas para “conversar” com José Fernandes. Nessa confusão emocional, muitas seguidoras passaram a responder como se estivessem em uma chamada, deixando comentários apaixonados, números de telefone e até endereços pessoais nos vídeos.
Alguns casos chamam atenção pela gravidade dos impactos. Um deles envolveu a mãe do psicólogo Paulo Fernandes, que chegou a perder R$ 1.500 após comentar seu número de telefone e endereço sob a impressão de que o influenciador viria visitá-la. Fraudadores, se aproveitando dessa vulnerabilidade, se passaram por ele, resultando em prejuízo financeiro e emocional. Familiares relataram alterações de comportamento nas idosas, desde vestirem-se para esperá-lo, até isolamento social e abandono de rotinas de saúde para acessar seus vídeos.
Especialistas em comportamento e economia digital alertam que plataformas como TikTok, com seu feed algorítmico, facilitam esse tipo de conexão ilusória. A psicóloga Paula Coaglio ressalta que, para mulheres em situação de isolamento social, o conteúdo dirigido pode substituir vínculos afetivos, criando ilusões que têm alta repercussão emocional. Essa fragilidade exige atenção familiar: diálogos sérios sobre redes sociais, monitoramento do uso e explicação sobre a natureza pública e fictícia de muitos conteúdos são fundamentais para proteger esse público.
Diante dos questionamentos, o influenciador gravou vídeos afirmando que não mantém nenhum tipo de contato privado com seguidores e que é apenas um personagem em sua criação de conteúdo. Destacou também o problema de perfis falsos que usam seu nome para aplicar golpes, deixando claro que não solicita dinheiro ou reencontros pessoais. Até o momento, contudo, não houve manifestação pública sobre os casos de consumo exagerado ou as consequências que teriam levado ao distanciamento familiar e à perda financeira de seguidoras vulneráveis.
Em tempos em que o mercado de influenciadores no Brasil movimenta centenas de milhões, casos como este revelam os limites éticos do conteúdo direcionado a públicos sensíveis. O engajamento é, em muitos casos, sinônimo de monetização, o que pode criar tensão entre estratégia de audiência e responsabilidade afetiva.
A trajetória de José Fernandes como “encantador de idosas” acendeu um alerta sobre os riscos da idealização de personagens virtuais. O fenômeno não se resume a entretenimento: ele envolve emoções, confiança, e, em casos extremos, exposição e prejuízo real.
Este caso reforça a importância de Educação Midiática, proteção digital para pessoas idosas e maior reflexão sobre os limites da criação de conteúdo em ambientes digitais. A família e a sociedade têm um papel decisivo em preservar a dignidade e a segurança de quem consome esse tipo de material com sensibilidade.
